o boêmio à paris


apago a porra do cigarro que enerva os meus sentidos e consome de fumaça a minha boca, e olho para as letras que escrevo.
letras tão tremidas e embaçadas quanto minha mente, antes astuta,  hoje inebriante de pensamentos vagos e lamúrias escondidas.
observo que já não há mais linha reta sob minhas palavras e que elas se embaraçam como cabelos negros esvoaçantes na ventania do pôr-do-sol.
o pedaço de espelho, outrora imponente na parede da sala de paredes negras, reflete somente meus olhos encharcados e minha boca contorcida pela dor ou pela vontade de gritar abafada pelo silêncio.
o escuro do quarto é somente quebrado pela luz cambaleante da vela sobre a mesa.
as janelas estão fechadas, evitando que penetre pela janela as luzes da torre* que observa a cidade e seus cidadãos.
a caneta preta sem tinta, se contrasta com o papel branco sem palavras. não entendo como duas coisas que se completam não funcionam juntas, não são simbiontes.
prostitutas velhas que dançam freneticamente o can-can, mostrando as pernas sarnentas e as peles flácidas, que atraem velhos matutos com seu canto de sereia.
é cidade. é noite.
é o som e o toque das palavras que uso. como se a lua cita-se e eu, como bom cavalo que sou, apenas escrevo e permito que sua essência penetre meu ser e me faça completo, mesmo que o único complemento que eu queira seja o complemento perpétuo. a morte.

* Torre Eiffel

Um comentário em “o boêmio à paris

Adicione o seu

Deixe um comentário

Crie um site ou blog no WordPress.com

Acima ↑