Piloto Automático


Acordar antes do sol sem esperar o alarme tocar. Levantar de supetão, abrir os olhos e sentar, numa urgência que a ansiedade me entrega diariamente. Sair da cama e fazer um café. Ah… O café (com leite, hein?!).
Sentar no sofá e pensar na vida. Ou não. As vezes não pensar em nada e zapear pelas redes sociais tentando ocupar o vazio da mente.
Sair do sofá, tomar um banho e colocar uma roupa, aquela que mais se encaixar com o dia. Mas a meia não! Essa tem que ser pensada pro dia. Acordar aquele que amo para me despedir (se não o faço o vazio só piora). Colocar minhas contas, minha proteção contra o mundo e contra minha mente quebrada. Pedir o carro e partir.
Na viagem, abrir a janela e me perder em meus pensamentos, as vezes com fone e as vezes sem, olhando pro lado de fora reconhecendo o caminho que eu faço todo dia como se fosse algo novo.
Ao chegar perto do trabalho, me sentar direito, colocar o crachá e vestir a máscara de sorrisos e adentrar a escola com um humor impecavelmente bom!
Receber as pessoas, conversar, acompanhar aula, ouvir e resolver problemas. Respira. É rotina, sala, aula, horário. Respira. Mais pessoas, atender demandas, ouvir lamentos e conquistas. Respira. Olhar pela janela e ver o mundo lá fora girando iluminado entre as grades da parede azul.
Chega a tarde e o ciclo se repete, acompanhado do meu inseparável café que esfria em minha xícara sob a mesa. Receber as pessoas, conversar, acompanhar aula, ouvir e resolver problemas. Respirar. O dia está acabando.
Ver chegarem mensagens e excluir a notificação por não ter vontade de responder.
Acompanhar a saída e quando a última criança sair, pegar a mochila, colocar nas costas e descer dando tchau pra todo mundo afirmando que no dia seguinte iremos nos encontrar (mentindo pra disfarçar uma vontade de não estar).
Pegar o carro e tirar a máscara pra guardar intacta na mochila para o dia seguinte, quando esperam sempre que eu esteja com ela como se não desmoronasse um mundo por vez a cada hora.
Voltar pra casa com o sol já escondido (acho que ele não gosta muito de me ver, logo eu que tanto o amo).
Cheguei! Tirar o sapato na entrada pra não sujar a casa com as energias do mundo imundo, guardar as contas, a mochila no quarto e banho. Deixar a água levar a cola da máscara e me desarmar.
Vestir minha roupa, olhar aquele que eu amo, que estava a minha espera, e saber que estou em segurança. Ter a certeza de que aqui não preciso usar máscara.
Conversar, ver algo pra comermos juntos na mesa de mármore que corta a sala enquanto passa algo no datashow pra distrair a mente.
Encostar no sofá e deixar o corpo entender que o dia chegou ao fim e eu posso descansar.
Ser acometido por um sono incapacitante, tentando inutilmente me manter acordado para estar com ele (porque só dele estar ali é o suficiente pra eu sentir calmaria e ter paz).
Lutar contra o sono até não poder mais, desarmar nossa estrutura multimídia, deitar e deixar Morpheus tomar conta de mim sem eu perceber.
Desligar o piloto automático e repetir.
Repetir.
Repetir.

Deixe um comentário

Crie um site ou blog no WordPress.com

Acima ↑